quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Na neve e no Mundo dos Falcões

Já há algum tempo que não relato aventuras nossas. Não é pela sua ausência ou raridade, mas mais por ausência daquele ímpeto de escrever, de relatar, mas mais confesso, pela teimosia de evitar mais horas de computador, tantas que estas já são... Mas há 2 episódios últimos que não quero deixar de partilhar. Um primeiro, mais distante, mas mesmo assim já no final de Janeiro. Nada programado, a não ser o que lhe deu origem - a viagem de avião: Porto - St Etiènne - Porto, pela Ryanair, tudo incluído, 2 pax, pelo preço final de € 4,00. Sim, é verdade, conseguimos atravessar a Ibéria e voltar, de avião por esta ridícula quantia. Pois bem, com tal subsídio às férias fora de sítio, não resistimos em... ir! Fomos e fizemos um programa simplesmente genial, não fosse a hospitalidade fora de série dos tios, lá em Clermont-Ferrand. Além de tudo o resto, o programa incluiu novamente neve. Num primeiro registo, na minha quase-estreia do ski de fundo, numa manhã inteira cheia de peripécias e que agora nos faz admirar ainda mais os atletas de Vancouver e na mesma tarde, uma caminhada invernal com as caricatas raquetes de neve! Giro, cansativo mas sobretudo muito único. Num segundo registo foi o regresso a Super-Besse, às descidas. E desta vez a progressão já me levou às pistas azuis. Com muita cautela e sem grande excitação do ponteiro do velocímetro, mas mesmo assim, sem palavras para descrever este prazer da vida que é esquiar montanha abaixo, desde lá de cima. Espírito de liberdade no seu expoente máximo.


O segundo episódio digno de registo foi este fim-de-semana. Além de tudo o resto o que a ponte de carnaval permitiu, fomos de propósito até Alter do Chão, à Coudelaria de Alter, para usufruir do Programa "Passeios na Tapada com os Falcões". As referências eram poucas e pelo site não conseguíamos antever o que nos esperava. Reservámos antecipadamente, recebemos a confirmação cuidada do Carlos Crespo e à hora marcada lá estávamos nós nas "Casas Altas" da "Coudelaria de Alter" para iniciar o programa. Um programa em exclusivo, só para nós 2, acompanhados pelo Carlos e pelo Nuno. Começámos pela exposição, passámos pelos estábulos dos Garanhões Puro Sangue Lusitanos, vagueamos pelo meio das éguas pranhas no prado e sim, estivemos perto, muito perto das rapinas. Águias, falcões muitos e um bufo, na exposição. Uma saída de campo com os perspicazes falcões deixou-nos sem palavras. Simplesmente único ver a mestria da simbiose homem-animal e a destreza destes verdadeiros relâmpagos dos céus. Tão predadores mas tão atraentes ao mesmo tempo. O passeio, mas sobretudo a experiência de lançar, chamar e receber os falcões no braço foram extraordinários e aconselhamos vivamente a que façam também. Vale muito a pena, sobretudo sabendo que o custo da actividade apoia esta actividade tão nobre que por cá se faz e que tão pouco se fala. Bem haja!



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010

Poema de Fim de Ano


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido

(mal vivido ou talvez sem sentido)
Para você ganhar um ano
Não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

Mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,

Novo até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

Novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
Mas com ele se come, se passeia,
Se ama, se compreende, se trabalha,

Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

Não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções

Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
Pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar

Que por decreto da esperança

A partir de janeiro as coisas mudem

E seja tudo claridade, recompensa,

Justiça entre os homens e as nações,

Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

Direitos respeitados, começando

Pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,

Tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,

Mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade