segunda-feira, 8 de junho de 2015

Grave e agudo

Som. Uma coleção de graves e agudos tons. Da grossa e vibrante baixa frequência de um grave até à estridente e arrepiante alta frequência de um agudo. As ondas de pressão do som descodificam-se no ouvido e transformam-se em mensagem, à velocidade da luz. Entrincheirado na gama do audível, o ouvido humano é um dos recetores de emoções mais fortes que possuímos. Pela expressão do som falamos, comunicamos, alertamos, cantamos, gritamos, sussurramos, interligamo-nos. Na música, o grave, em pano de fundo proporciona o alicerce da melodia que se lhe sobrepõe. Dá ritmo, corpo, intensidade e robustez ao conjunto. Nos graves sinto o pulsar da vida, do bater do coração. Talvez por isso me reconforte tanto. Talvez por isso nos prenda tanto. O agudo escreve, a tinta da china, a narrativa da melodia. Realça a intensidade das emoções. Paralisa o espaço e reclama para si a atenção em exclusivo. No diálogo com os filhos, sons graves e agudos, deliberadamente bem destacados, são um catalisador incrível da relação. Ler a admiração de um bebé em reação a um clamor grave do leão ou o sorriso maroto, fruto da aprovação do comentário da mamã lego, são momentos mágicos. No silêncio, plenitude da ausência do grave e do agudo, respira-se em profundidade. Tranquiliza-se a mente e o sistema nervoso. Tanto o André como a Rita choram em dó menor. Num agudo estridente que estilhaça a paciência. Sem dó nem piedade, até à tranquilidade do conforto do colo ou do cumprimento da necessidade reclamada. Em tom grave canta o Tiago a música da liberdade. Decorados os versos principais sem dificuldade, é um espanto ouvir, com voz grave esforçada o "Grândola vila moreeena...". Na música, graves e agudos entrelaçados, harmoniosamente agregados, transportam-nos para outro mundo. Na casa da música, agora nossa vizinha há dois meses, destaca-se e elevam-se os graves e os agudos ao seu maior prestígio. Na universalidade das sonoridades intercontinentais, há aqui no Porto um expoente máximo à cultura da música. Também em abril de dois mil e quinze esta casa da música celebrou dez anos. A primeira década onde recebeu 4.538.180 visitantes e realizou 2.358 concertos. Arrebatador ainda é o espólio de instrumentos. Mais de dois mil no total. Pianos e cravos, violinos e contrabaixos, harpas e clarinetes, mas o naipe mais representado é o das percussões, que inclui um gamelão indonésio para uso comunitário.



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