terça-feira, 2 de junho de 2015

Pedro e Inês

Fogo que arde sem se ver. Uma estória de amor real, da nossa História, com todos os superlativos. A paixão arrebatadora de um Rei por uma ama, numa aliança proibida pela época. Numa altura em que se lutava pela reconquista da nação aos Árabes, a trágica morte de Inês de Castro atiçou ainda mais o desejo ardente de D. Pedro I. Um enredo tal, com amor mas também ódio, com inveja mas cumplicidade, com angústia mas esperança. Mas vamos por partes. Pedro nasceu a 08/04/1320. Os pais, Afonso IV e Beatriz, qual preocupação com a mensalidade da creche, queriam era arranjar-lhe rapidamente uma mulher para casar. Primeira tentativa, Branca de Castela. Pedro negou, pois a senhora era muito doente. Segunda tentativa, Constança de Castela. Pedido aceite. Boda com pompa e circunstância. Estavam reunidas as condições para procriar e garantir a sucessão oficial. Aos vinte anos, em 1340 chega a Portugal a comitiva de Constança, rodeada de pagens, aias, parentes e criados. Inês é uma dessas aias. Começa aqui a nossa estória de amor. Proibido já se sabe. O casamento anunciado prossegue e Pedro casa-se com a Constança. Pedro quebra contudo, claro está, a fidelidade do casamento e, mantém encontros regulares com a Inês. Um romance quente, afagado pelo povo, repudiado pelos pais, autores da encomenda do casamento. Por soberania da autoridade do trono, exilam Inês no convento de Santa Clara, em Coimbra, numa tentativa de os afastar. Do casamento administrativo Pedro obriga-se a ter filhos. Resultam três. Luís, Maria, e Fernando. Com o nascimento do Fernando, Constança não resiste à violência do parto e morre. Pedro viúvo respira. Inês está agora mais próxima que nunca. Têm quatro filhos. Afonso (assassinado em criança), Beatriz, João e Dinis. Os membros da corte, feridos no orgulho, alimentam uma espiral de conspiração em torno de Inês e da sua família, para fazer tudo por tudo para a impedir Inês da integrar a monarquia. Havia um herdeiro oficial, o Fernando. Havia em paralelo três bastardos de Inês. O Rei temia que os bastardos pudessem assassinar o Fernando e assim ascenderem ao torno. Decide matar Inês. Durante um dia de caça de Pedro, em janeiro de 1355. Três nobres insolentes, Pêro, Diogo e Álvaro apunhalam Inês a sangue frio, sem dó nem piedade. Bela merda. Pedro a arder de dor, desespero, raiva e angústia declara guerra ao pai. Assaltou castelos, matou desmesuradamente. Ao fim de alguns meses, após negociações, assina-se tratado de paz. Em 1357 morre o pai e Pedro é entronado Rei de Portugal. Imediatamente ordena a busca dos assassinos de Inês. Diogo fugiu para França. Pêro e Álvaro foram executados. Retiraram-lhes os corações. Um pelo peito, o outro pelas costas. Queimaram os seus corpos, enquanto Pedro se banqueteava. Dois anos mais tarde, Pedro mandou desenterrar Inês, sentou-a no trono e, perante o povo, coroou-a Rainha de Portugal. Obrigou todos os nobres presentes a beijarem a mão do cadáver. Ordena a construção de dois túmulos, para ambos, virados um para o outro, para a eternidade, no Mosteiro de Alcobaça.








As filhas do Mondego, a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E por memória eterna em fonte pura
As Lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram que ainda dura
Dos amores de Inês que ali passaram
Vede que fresca fonte rega as flores
Que as Lágrimas são água e o nome amores

Os Lusíadas, canto III



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